Por que os moradores de Belém estão furiosos com os jornalistas de fora
Também nessa newsletter: a confusão do IOF, Haddad emparedado e a escalada dos preços de artistas latino-americanos
Moradores de Belém estão irritados com a cobertura da imprensa sobre a preparação da cidade para a COP30 porque sentem que as reportagens dão ênfase desproporcional aos aspectos negativos, como pobreza, esgoto a céu aberto e violência, ignorando o esforço coletivo para tornar o evento um sucesso. Para muitos locais, há orgulho em receber um evento internacional tão importante na Amazônia, e empresários e comerciantes vêm trabalhando para aproveitar a oportunidade econômica gerada pelo fluxo de visitantes.
Esse sentimento remete ao que aconteceu no Rio de Janeiro antes das Olimpíadas de 2016. À época, a imprensa internacional também destacou os problemas urbanos da cidade — como obras atrasadas, favelas e violência — gerando frustração entre os cariocas. Assim como no Rio, Belém também vive uma corrida contra o tempo, com um surto de obras públicas e adaptações urbanas para receber delegações de todo o mundo. E, de novo, paira o risco de que a cidade seja lembrada mais pelos seus desafios do que pela capacidade de realizar um evento global em meio a adversidades históricas.
A Bloomberg esteve na cidade. A íntegra da reportagem em inglês pode ser lida aqui. Na foto, obra de construção de pavilhões em Belém (crédito: governo do Pará).
Quem paga a conta da alta do IOF
Cuidado para não fazer papel de bobo e defender a alta do IOF como “justiça tributária” porque aumenta o tributo pago no cartão de crédito em viagens ao exterior: o grosso da arrecadação de R$ 19 bilhões que o governo projeta virá da taxação de operações de crédito e câmbio.
Segundo estudo do BTG Pactual, o aumento da alíquota do imposto para até 3,95% ao ano tem potencial de elevar o custo efetivo de financiamentos corporativos em até 4,8 pontos percentuais — o que, na prática, equivale a uma alta de 3,1 pontos na taxa Selic; ou uma Selic de 17,85% ao ano (hoje está em 14,75%).
O cálculo consta de relatório assinado pelos economistas Bruno Martins, Mansueto Almeida e Samuel Pessôa, que modelaram o efeito das novas alíquotas sobre linhas de crédito utilizadas por empresas. Escrevi sobre o assunto aqui.
Haddad emparedado
Participando de um evento com Lula no Paraná, Fernando Haddad (Fazenda) ficou com a voz embargada ao discursar. Reclamou de “críticas injustas”.
Os presidentes da Câmara e do Senado já deixaram claro que não pretendem aprovar mais nenhum aumento de imposto para o governo Lula. Mais do que isso: estão decididos a derrubar o aumento do IOF, estabelecido por decreto e anunciado na semana passada.
De outro lado, o ministro da Fazenda precisa lidar com a recusa do presidente Lula em cortar gastos. Essa postura acompanha o governo desde o início e não deve mudar agora, às vésperas de um ano eleitoral.
Surrealismo latino-americano
Segundo reportagem da The Economist, o surrealismo latino-americano tem se destacado como um dos segmentos mais dinâmicos do mercado de arte global, mesmo em um contexto de retração. Obras de artistas como Leonora Carrington, Remedios Varo e Alice Rahon — surrealistas mulheres que atuaram no México a partir dos anos 1940 — vêm atraindo colecionadores em busca de investimentos mais seguros e acessíveis. Entre 2017 e 2023, as vendas dessas artistas cresceram, em média, 150% ao ano, e só em 2024 aumentaram mais 159%, mesmo com uma queda de 27% no mercado como um todo.
A valorização, explica a revista, é impulsionada por fatores históricos e culturais: muitas dessas artistas encontraram no México um ambiente fértil para desenvolver sua obra, longe do domínio masculino que prevalecia na Europa. Hoje, com o reconhecimento institucional — como a inclusão em exposições do Metropolitan Museum — e a demanda de colecionadores influentes, como o argentino Eduardo Costantini, essas obras alcançam cifras milionárias. Para a The Economist, esse ressurgimento confirma que a arte nascida da marginalidade e do exílio pode se tornar protagonista em um novo ciclo do mercado internacional. A íntegra da reportagem está aqui.
Na foto acima, “Les Distractions de Dagobert” (1945), de Leonora Carrington (crédito da imagem: Sotheby's)